A biografia esportiva se inicia antes mesmo do envolvimento com o esporte organizado, isto é, do treino sistemático, planejado e das competições oficiais. Aprendi a gostar de futebol por causa do meu pai, com quem bati muita bola no quintal de casa. Também joguei muita bola na rua, no campinho de terra. Naquela época, no final da década de 1970, a bola era o brinquedo e o futebol a brincadeira favoritos de muita criança. Além disso, inventei e pratiquei, diariamente, muitas brincadeiras com a bola nos pés que me davam enorme prazer. É o tal do jogo deliberado.
Foram essas experiências que me deram condições de ser escolhido para uma equipe de futsal aos 11 anos de idade, tarde para os padrões atuais. Vou repetir: a pedagogia da rua me deu condições de entrar para o esporte. Naquele tempo, ou você jogava bem ou não te selecionavam, porque não havia escolinha de futsal paga. E eu, entre os anos de 1981 e 1983, jogando pelo Bussadori e, em 1984, pelo Canadá, apaixonei-me pelo futsal. Havia muitos bons jogadores nesses times e dois treinadores dedicados: o Bolão, no Bussadori e o Fuzil, no Canadá. Vencemos quatro títulos da Taça Paraná de Clubes, em sequência: mirim, infantil, infanto (Bussadori) e juvenil (Canadá). Ou seja, tive várias oportunidades para competir, o que é muito relevante quando se pensa na consistência de uma formação esportiva. Não demorou, fui convocado para a seleção paranaense infantil em 1982 e, por ela, tive a oportunidade de disputar o meu primeiro Campeonato Brasileiro de Seleções em 1983, em São Paulo. Esse é o tipo de oportunidade que te confere alguma vantagem competitiva sobre outros jogadores da sua idade. No ano seguinte, em 1984, no Canadá Country Club, com 15 anos, fiz o ano mais intenso de todos: jogava pela minha categoria (Sub-16), mas também pela juvenil e a principal. Foi um salto! Passei a jogar com jogadores muito mais experientes e isso realmente me impulsionou. Quem me promoveu para o adulto foi o Gumercindo Marcantonio, treinador do Canadá e da seleção londrinense.
Enquanto jogava e aprendia futsal, ia, sempre que podia, nos treinos da escolinha de futebol da UEL, mantida aos sábados pelo professor Otavio de Paula Nascimento, o Otavinho, que era o responsável pela disciplina de Futebol na Universidade Estadual de Londrina. Certo dia, o Otavinho marcou um amistoso contra o Matsubara (PR), um famoso clube formador e revelador, que era da cidade de Cambará, próxima de Londrina. Jogamos, perdemos, mas deixei alguns gols e uma boa impressão. Tanto que eles me queriam levar para lá. Eu fui para conhecer o clube. Treinei uma tarde e, no outro dia, participei de um jogo amistoso contra o XV de Jaú. Joguei o 2o tempo, 45 minutos. Acontece que o treinador da seleção brasileira juvenil da época, Homero Cavalheiro, que percorria o país atrás de jogadores dessa idade para disputar o Mundial da categoria, assistiu a partida e me convocou. E eu, mesmo sem clube, passei por todas as fases de treinamento e disputei o Mundial Sub-16, na China, em 1985, quando, num jogo semifinal de 7 gols (4×3), fomos eliminados pela Alemanha, ficando com a medalha de bronze. Na época, a Revista Placar destacou-me numa reportagem como “O craque free lancer”, numa alusão ao fato de estar na Seleção Brasileira e não pertencer a nenhum clube.
Da seleção não voltei para o Matsubara, mas fui para o Flamengo, onde fiquei de 1985 a 1987. Cheguei para o juvenil, disputei um Carioca, permaneci por três meses, fechando o ano. E em 1986, um ano antes do esperado, o professor Carlinhos (foto), técnico dos juniores, me subiu para os juniores.
Esse time aí embaixo venceu o que disputou em 1986: foi campeão carioca e brasileiro.
Quando tudo parecia caminhar para uma carreira promissora no futebol, isso em 1988, um conjunto de coisas influenciou a minha decisão de retornar para Londrina. Eu tinha 18 anos. Como diz o médico psiquiatra italiano, Mauro Maldonato, que escreve sobre tomada de decisão: “Apenas numa ordem abstrata tudo já está no lugar certo. Em uma ordem real tudo está aberto”.
Em Londrina, joguei por mais dois anos nos juniores do Londrina E.C, quando, concomitantemente, ingressei no curso de Educação Física da UEL. Tínhamos um ótimo time, mas que não venceu campeonatos.
Com o curso em andamento, e como a maior parte dos alunos daquela época que queriam trabalhar, o esporte era a porta de entrada. Foi assim que me iniciei como treinador de futsal de categorias menores, em 1990, no Canadá C.C. Foi um tempo em que estudava educação física, trabalhava com o futsal e ainda jogava futsal.
Nos anos seguintes, 1992 e 1993 fui para a AREL, e depois, para o Iate Clube, onde permaneci por 9 temporadas, de 1994 a 2002. No Iate foi possível disputar, além de todos os campeonatos municipais que disputara nos clubes anteriores, os estaduais e, por duas vezes, a Taça Brasil de Clubes (infantil). Fiz 33 finais de campeonatos citadinos e 14 finais consecutivas da Taça Paraná, do mirim ao adulto. Foram 26 títulos! E, por pouco, não veio o título de campeão brasileiro, em 2001, em Rio Verde (GO), na categoria infantil. Nesse mesmo ano, dirigi o Paraná no Brasileiro de Seleções dessa categoria, em Juiz de Fora (MG).
Foi assim, a partir dos desafios que essas competições me impuseram, que aprendi a ser treinador. Trabalhei para jovens muito dedicados, que me ouviam e gostavam de mim; vencemos e perdemos alguns campeonatos e aprendemos amizade, cooperação, perseverança e futsal. Por muito tempo esses meninos foram a minha família fora de casa; alguns deles se profissionalizaram no futsal e no futebol no Brasil e no exterior; outros optaram por carreiras distintas da esportiva.
A partir de 1995, iniciei-me como técnico da categoria principal e, logo no meu primeiro campeonato estadual, em 1996, vencemos, de forma invicta, o Campeonato Paranaense, Série Prata, subindo o Iate Clube para a Divisão Especial, Série Ouro. Treinei equipes na Série Ouro por cinco temporadas (de 1997 a 2001). Isso, por exemplo, me levou a dirigir a seleção paranaense da categoria principal, em 1997, no Campeonato Brasileiro de Seleções, em Belo Horizonte.
Concomitantemente à quadra e às competições, continuei a estudar e viver para e do esporte: escrevi, em 1996, “Futsal: metodologia da participação” (Editora Lido). Este livro está na sua 3a edição, que saiu em e-book.
De 1996 a 1999, fui técnico de futebol do PSTC, categoria Sub-15; de 1994 a 1996, fui professor do Colégio Máxi. Em 1997, comecei a ser professor do curso de Educação Física da UNOPAR, ou seja, a ensinar futsal para quem, um dia, poderia ensinar futsal. Saí de lá em dezembro de 2007, pois não quis acumular com a UEL, onde entrei como professor efetivo nesse ano.
No final de 2002, tive de sair da quadra. O fato é que decidi estudar mais e fui parar na Unicamp, onde, no final de 2003, terminei o mestrado e, em 2008, o doutorado. Não dava para conciliar quadra e sala de aula. Entre 2002 e 2008, consegui manter, na Unopar, um projeto de extensão de iniciação no futsal e dei início a um curso de especialização de futsal lato sensu, que formou sete turmas de treinadores. Foi um longo período sem dirigir equipes, mas fundamental para estudar, ver, ouvir, aprender. Nesse interim, escrevi meu segundo livro, em 2004, “Futsal: apontamentos pedagógicos na iniciação e na especialização” (Editora Autores Associados), que foi reeditado em 2008.
Quando saí do doutorado e já como professor efetivo na Universidade Estadual de Londrina, não demorei para voltar à quadra. Foi em 2010, como treinador de uma seleção londrinense Sub-18. Em 2011, estive, como assistente, na seleção paranaense Sub-17, que disputou o Brasileiro de Seleções em Igarassú (PE).
Em 2013, dirigi novamente uma seleção londrinense Sub-18. Neste ano de 2013, lancei um projeto de extensão na UEL de iniciação ao futsal.
Em 2014, voltei a dirigir na categoria principal. Foram três anos de muito aprendizado na Série Bronze do Paranaense: Cambé (2014), Iate Clube (2015 e 2016).
Bem, eu não parei de estudar e de escrever. Por isso, em 2014, lancei meu terceiro livro: “70 contextos de exercitação tática para o treinamento do futsal” (Companhia Esportiva).
E, em 2015, meu quarto livro: “Pedagogia do esporte: jogos esportivos coletivos” (Phorte). Ambos em parcerias.
Desde o lançamento do meu primeiro livro, em 1996, eu venho percorrendo o país falando sobre futsal e pedagogia do esporte.
Se por um lado, as equipes adultas do Iate de 2015 e 16, não alcançavam as finais da Série Bronze, por outro lado boa parte dessas equipes era formada por jogadores Sub-20. Isso fez com que vencêssemos duas importantes competições juvenis: o estadual em 2015, em São José dos Pinhais (PR) e o brasileiro, em 2016, em Campina Grande (PB).
E isso me levou à Seleção Brasileira de Futsal Sub-20, como assistente, em 2016, para a disputa do Sul-americano da categoria, em Montevidéu, Uruguai. Fomos vice-campeões. Tive o privilégio de dirigir a seleção, como treinador, nos três primeiros jogos da competição, diante de Equador, Venezuela e Paraguai, com três vitórias, classificando a equipe para a semifinal.
Uma curiosidade da minha passagem pela seleção brasileira em 2016, foi participar de dois jogos amistosos da categoria principal, diante do Paraguai, em Sorocaba, e do Uruguai, em Belo Horizonte.
E isso me levou ao Corinthians em 2017, meu time de infância, de coração.
E isso me levou à Seleção Brasileira de Futsal, categoria principal. Fui convocado para ser o assistente do Marquinhos Xavier no Grand Prix 2018.
Entre os anos de 2013 e 2016 fui treinador de uma geração de jogadores nascidos em 2007 e 2008. Isso contemplou as categorias Sub-7 e Sub-9. Enquanto os treinava, registrava os treinos e experimentava intervenções metodológicas, nutria o sentimento de organizar isso em um livro. Comecei-o a escrever ainda em 2016, mas foi nos anos de 2017 e 2018 que concretizei essa meta. O resultado foi o meu quarto livro: “Pedagogia do futsal: jogar para aprender”, publicado pela Companhia Esportiva.
2020 foi um ano em que atuei no Athletico Paranaense, um clube incrível. Lá, acumulei duas funções: treinador da categoria Sub-14 e Head Coach da Iniciação Esportiva. Na prática, além dos treinos diários para a minha categoria, interagia metodologicamente com um conjunto de treinadores das categorias Sub-11, 12 e 13 do futebol e do futsal.
Um pouco antes de ir para o Athletico Paranaense, fiz a licença B da CBF para treinadores. Foram duas semanas em São Paulo, com mais de 50 treinadores. Um grande aprendizado!
Espaço da Pedagogia do Futsal, renovado e principalmente mantendo aquilo que sempre foi o seu diferencial, inteligência ao se tratar de futsal. Parabéns, Wilton, meu irmão!!!!
Vina, muito obrigado pelas palavras. Mas o meu privilégio é tê-lo na minha biografia! Você é singular!
Parabéns Wilton !! Nosso grande mestre, foi, é , e sempre será minha referência no futsal. A página ficou 10!!
Fala, Cristiano! Obrigado pelas palavras. Você foi um aluno muito dedicado, responsável. E levou isso para sua vida profissional. Abraços.