Para jogar bem futsal

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Para jogar bem futsal

Wilton Santana

 

 

Quando me perguntam o que é preciso aprender para jogar bem futsal, invariavelmente respondo que, em larga medida, jogar bem futsal demanda aprender a interagir. Interagir, aqui, significa atuar taticamente. Por exemplo, ajudar o colega superado pelo adversário, entrar em linha de passe para receber a bola, executar uma tabela, um cruzamento, retornar defensivamente e tantas outras atitudes táticas.

É fato: independentemente da idade, os jogadores de melhor nível incluem os colegas e os adversários nas suas tomadas de decisão. Incluem-nos no campo visual e, para mais que isso, sabem ler suas intenções. Portanto, o jogo de quem sabe interagir começa, literalmente, no enquadramento do jogo (no olhar) e, mais que isso, no significado que se imprime a esse olhar (intenção). Jogadores evoluídos “não apenas veem, mas enxergam”. Por isso, Claude Bayer, o pedagogo francês, ensina que o bom professor deveria educar a intenção dos jogadores!

Se o que escrevi até agora foi suficientemente pertinente, três coisas são plausíveis de se afirmar:

(1) ensinar a interagir taticamente deve ser perseguido pelo treinador independentemente da idade, senão o nível de jogo do jogador fica fragilizado;

(2) logo, o treinador precisa entender dos aspectos tático-técnicos do jogo de futsal, a começar pela sua lógica interna;

(3) é preciso transformar esse conhecimento teórico numa prática consistente.

 

Efeito prático

 

Por mais que seja didático dividir a tática (a atuação do jogador) em individual, grupal e coletiva, na prática, aprender a interagir demanda aprender a integrar as intenções próprias às alheias e estas àquelas. E isso, que não é nada fácil de construir, fica suspenso se os treinadores forem “antipedagógicos” e  colocarem os jogadores para memorizar e repetir técnicas descontextualizadas e jogadas ensaiadas.

O que fazer? O que propõe, minimamente, a Pedagogia do Esporte contemporânea: que o desenho de treino seja parecido com o de jogo, ou seja, que a lógica didática respeite a lógica interna do jogo!

Para as dinâmicas de treino de jogadores iniciantes:

– Diminuir o nível de complexidade dessa comunicação/interação, que passa por jogar com menos colegas e adversários, logo, sob menor sobrecarga decisional, em espaços menores, com regras que aumentem a propensão de que diferentes princípios de jogo e atitudes tático-técnicas sejam explorados.

 

Quadra interna do Centro de Educação Física e Esporte da UEL – categoria Sub-9 (2016)

 

Para jogadores mais avançados, que acumulam mais experiência e aprenderam a aproximar pensamento e ação:

– Propor desenhos de treino que potencializem o jogo que se pretende jogar/produzir em cada momento do jogo, criando as chamadas regularidades táticas – o caminho para se imprimir, de jogo a jogo, uma identidade coletiva.

 

Ginásio Poliesportivo Wlamir Marques (SP) – Sub-20 do S.C. Corinthians (2017)

 

Se jogar exige interagir, então os treinos precisam contemplar isso. Não será pulverizando as interações táticas, desassociando as intenções dos jogadores dos seus gestos e estes daquelas, que se ensinará a jogar bem futsal.

 

Wilton é professor do Departamento de Ciências do Esporte da Universidade Estadual de Londrina.

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