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As dinâmicas ofensivas do jogo de linha-goleiro

Wilton Santana

 

 

Num artigo recente, intitulado “A variedade tática do jogo de linha-goleiro”, identifiquei alguns desenhos táticos (posicionamentos) utilizados por equipes de alto rendimento no futsal. Igualmente, afirmei que, embora variados, a diferença mesmo estaria na dinâmica ofensiva desenvolvida nesse momento do jogo, ou seja, nos movimentos táticos exibidos, em como os jogadores se comportam.

Nesse sentido, percebo que há, ao menos, dois tipos de raciocínios táticos mais recorrentes. Um que investe na circulação da bola acompanhada da infiltração de algum jogador da 1alinha ofensiva atrás da 1alinha defensiva. Esse jogador pode ser o do centro, como neste exemplo:

O jogador infiltra pelo centro, depois de passar a bola para a ala.

 

Ou pode ser o jogador vindo da ala, como neste exemplo:

Há dois modos mais comuns de se infiltrar: depois de fazer o passe para o centro ou, como nesse caso, quando a bola está com o ala oposto.

 

Em ambos os casos, o que se pretende é desequilibrar a defesa enquanto a bola circula, obrigando-a a se ajustar constantemente. O fato é que a mobilidade dos jogadores e da bola obriga os defensores a distribuir atenção entre a bola, quem infiltra e as opções de passe de quem porta a bola.

Boas opções de passe para quem tem a bola: atacar a área, passar para quem infiltra, recomeçar o ataque.

 

Outra ideia seria a de investir na circulação da bola, mas iniciando com um jogador postado sobre a última linha defensiva, como nestes exemplos:

O jogador faz pivô sobre o último defensor do losango.

 

O jogador faz pivô sobre a 2a linha defensiva do quadrado.

 

Nesse caso, se deveria ter um jogador habilidoso jogando de costas, com muitos recursos técnicos como pivô, que incomodasse, de forma contumaz, os jogadores da última linha defensiva. Se assim fosse, acioná-lo quase sempre significaria uma boa oportunidade de terminar o ataque. Trata-se de um ataque com ênfase na circulação de bola mais do que na mobilidade dos jogadores.

 Haveria, ainda, uma terceira possibilidade, a que mais me agrada, e que se constituiria numa combinação entre as anteriores: jogo de pivô e infiltração, como nestes exemplos:

 

Posicionando-se baixo, o jogador atua como um pivô de referência.

 

Posicionando-se alto, o pivô atua como um armador.

 

Nesse caso, circula-se a bola e diversifica-se o papel tático de quem iniciou postado – ora enfiado, ora subindo.

Seguramente, há uma complexidade tática considerável nessas dinâmicas ofensivas. Há, inclusive, princípios táticos que diferem de treinador para treinador, muitas vezes, para o mesmo desenho tático. Mas, modo geral, é o que consigo extrair do que acompanho no futsal contemporâneo.

Na prática

Diria que o treinador precisa treinar sistematicamente como pretende atacar, exercitando seus princípios táticos. Os desenhos de treino poderiam perpassar 5X4 (com oposição), 5X0 (sem oposição) e, até mesmo, com menos jogadores, em menor complexidade, quando se pretende enfatizar subprincípios do sistema (por exemplo, passe de primeira quando a bola chegar no fundo da quadra, etc.).

Sugeriria, igualmente, que o sistema fosse exercitado nos jogos. Seria um modo inteligente de ajustá-lo – o ataque precisa “sofrer” para evoluir. Por isso, e também pelo fato de o aspecto emocional estar imbricado com o comportamento decisional, se deveria obter êxito nessa utilização, de modo que os jogadores pudessem imprimir um sentimento positivo a isso. Êxito significa fazer o que se treina e agredir a meta adversária, aumentando o volume de ataques terminados e não, necessariamente, fazer gols. É preciso “sentir” que o sistema funciona.

Então, fique atento: produza um sistema que seja perigoso para o adversário e que imprima um sentimento de segurança para quem ataca! Para tanto, selecione os jogadores certos, posicione-os (desenho) e deixe claro “o que” fazer (dinâmica). Essa organização, somada a regularidade tática conquistada ao longo do processo, seriam o antídoto para enfrentar o caos desse momento, quando os jogadores decidirão a partida, o que implica em se ter coragem para arriscar e criatividade para improvisar, auto-organizando-se diante dos imprevistos.

Wilton é treinador nível 3 CBFS.

1 Comentário

  1. Edvan Eduardo disse:

    Ótima análise professor !!